29 Novembro 2017

Cooperação Técnica Brasil – São Paulo – Os desafios de implantação de um sistema de VLT

Este
seminário foi realizado no âmbito da cooperação técnica desenvolvida pela CODATU no Brasil. A Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) e o Governo do Estado de São Paulo assinaram, em abril de 2016, um acordo de cooperação técnica visando acompanhar a Secretaria dos Transportes Metropolitanos na implementação de diferentes projetos de mobilidade urbana e na melhoria dos sistemas de transporte público nas metrópoles paulistas. A CODATU e o CEREMA são os parceiros técnicos nesta cooperação.

A partir dos anos 1970, diversas cidades francesas entram num período no qual se busca desenvolver uma rede de transporte público mais limpa e eficaz, após uma época em que as cidades foram invadidas pelos automóveis. Trata-se da evolução das metrópoles, definindo novos paradigmas de transporte urbano e, consequentemente, da forma urbana, em harmonia com a disponibilidade das fontes energéticas.

Constata-se uma situação similar no Brasil nestes últimos anos. As cidades brasileiras procuram se equipar com um modo de transporte menos poluente e capaz de transformar seus bairros. É o caso do Rio de Janeiro e de Santos, que inauguraram as primeiras linhas de veículo leve sobre trilhos (VLT) do Brasil. Cada vez mais as cidades mostram interesse por este sistema de transporte, inclusive São Paulo, onde estudos de linhas de VLT estão em andamento.

Tendo em vista este contexto, nos dias 25 e 26 de setembro de 2017, foi realizado o segundo workshop da cooperação técnica em torno da análise dos aspectos de implantação de um sistema de VLT. Aproximadamente 40 profissionais de operadoras e administradoras do transporte público da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e de outras cidades importantes do Estado de São Paulo participaram deste workshop.

As apresentações foram realizadas por Andreas Heym, Diretor Marrocos & Desenvolvimento Internacional da AREP, Marine Millot, especialista da interação da vida urbana com as redes de transporte do CEREMA, Amélie Schell, responsável por estudos financeiros de transportes urbanos da DVDH, Etienne Lhomet, coordenador técnico da cooperação CODATU, e Bruno Almeida Maximino, responsável pela cooperação CODATU no Brasil.

Os desafios de implantação de um VLT e sua influência no território urbano

Os palestrantes realçaram o papel do VLT no espaço urbano. Um projeto de VLT é a oportunidade para mudar a dinâmica e a paisagem urbana. Além de trazer atividades econômicas ao longo do eixo de transporte, o VLT promove um modo de transporte respeitoso do meio-ambiente, ao mesmo tempo que considera as relações humanas que acontecem na cidade, assim como a cultura e a história locais.

Os projetos de VLT, geralmente, fazem parte de um projeto urbano, e os custos de investimento do VLT representam aproximadamente 60% dos custos totais do projeto urbano. Os espaços públicos ao longo da linha de VLT são completamente reordenados, com a prioridade para modos de transporte ativo, a construção de edifícios de habitação, de comércios e escritórios. Neste contexto, os exemplos mostram que articular mobilidade urbana e desenvolvimento do território é a chave do sucesso do projeto.

Além de aumentar a oferta de transporte público, um dos principais benefícios do VLT é que ele reduz de fato o espaço dedicado para o carro, já que o VLT ocupa uma parte do viário.

Ademais, foi mostrado que este modo de transporte pode assumir um papel de transporte estruturador para cidade de médio porte, mas também o papel de transporte complementar, sobrepondo uma rede de transporte de maior capacidade nas grandes cidades.

Diversos casos na França e no mundo mostraram que o VLT pode mudar a forma urbana, criando novas centralidades. Passa-se de uma cidade monocêntrica para uma cidade policêntrica.

Ressaltou-se que as aglomerações paulistas estão prontas para receber este modo de transporte.

Um trabalho em grupo para propor corredores de VLT em São Paulo

Na última sessão do workshop, os participantes trabalharam em grupos para propor uma linha de VLT na RMSP. Com mapas indicando os principais eixos de transporte existentes, eles deviam identificar um novo eixo de transporte onde seria possível reduzir o número de automóveis por meio da implantação de uma linha de VLT.

Foi solicitado que trabalhassem com os grandes elementos da mobilidade urbana: natureza, saúde e segurança, forma urbana, atividades econômicas, cultura e complementaridade dos modos de transporte.

As propostas foram variadas, atendendo diferentes bairros da RMSP. Diversas vezes os participantes evocaram o VLT como facilitador da redução do espaço do automóvel. Neste sentido, eles também levaram em conta não somente a demanda dos usuários cativos do transporte público, mas também a aquela correspondente a uma nova clientela atraída por este modo de transporte.

Pode-se distinguir duas metodologias de planejamento do transporte urbano: (i) o transporte público em regiões jábastante densas para atender uma demanda existente e, (ii) o transporte público como indutor do desenvolvimento de bairros menos densos. Destacou-se a importância de um novo serviço de transporte na emergência de novas centralidades, colocando em evidência que o planejamento dos transportes deve acompanhar o desenvolvimento urbano no mesmo ritmo.

Finalmente, diversos grupos citaram que o VLT estaria inserido em projetos urbanos contemplando parques lineares, o reordenamento das margens de cursos d’água e até mesmo a despoluição dos rios Tietê ePinheiros. Ou seja, o VLT desempenharia o papel de alavanca para a dinamização urbana.