30 Janeiro 2018

Retrato Mobilidade no Brasil: Saulo Pereira Vieira, Especialista em Transportes da STM do Estado de São Paulo

Entrevista
com Saulo Pereira Vieira

Especialista em Transportes da Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo

Saulo Pereira Vieira, Especialista em Transportes da Secretaria dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo (STM), trabalha no planejamento de transportes metropolitanos há mais de 30 anos e explica as funções de sua instituição e os atuais desafios enfrentados pela mesma.

Para começar, você poderia falar um pouco sobre a sua instituição de trabalho?

A Secretaria dos Transportes Metropolitanos é uma secretaria do Governo do Estado de São Paulo que tem a responsabilidade do planejamento, da gestão e da implantação de projetos nas seis regiões metropolitanas do Estado. A STM trabalha desde a fase do planejamento, da elaboração da concepção macro dos projetos de transporte até a implantação dos projetos e a operação. As duas últimas podem ser realizadas por meio de suas próprias empresas ou parcerias com o setor privado.

A STM consiste num conjunto de quatro empresas: o METRÔ, a CPTM, a EMTU e a EFCJ. Para se ter uma ideia, a operação do sistema metro-ferroviário da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) transporta 7 milhões de passageiros por dia útil. O transporte intermunicipal por pneus da EMTU transporta mais 2,6 milhões.

Em que consiste seu cargo atual?

Atualmente, trabalho na Coordenadoria de Planejamento e Gestão (CPG) da STM. Tenho um cargo denominado Especialista em Transportes. Esta coordenadoria trabalha com a atualização e a revisão do planejamento geral da rede, um trabalho que é desenvolvido de tempos em tempos, atualizando o Plano Integrado de Transporte Urbano (PITU), onde está definido o desenho da rede futura, com previsão de demanda e de oferta. O PITU atual está vigente até 2025.

A atividade central da CPG é o controle, acompanhamento e monitoramento da implementação dos projetos, tanto por meio das empresas vinculadas, quanto por meio de parceiros privados. São gerados relatórios de acompanhamento da implantação para gerenciamento de recursos e orçamento junto à Secretaria de Planejamento e Finanças.

Além disso, a CPG desenvolve material de apoio nas exposições do Secretário, trabalha no monitoramento de informações para o Plano Plurianual (PPA), assim como uma série de atividades de divulgação de projetos de futuro, recebendo delegações e eventuais parceiros interessados na implementação destes projetos.

Desde quando você exerce este cargo? Qual a sua trajetória profissional?

Estou na CPG desde 2011, mas trabalho no Estado desde 1985, ou seja, há 33 anos. Comecei no METRÔ, onde estive por 12 anos. Em seguida, fiquei na CPTM por mais 5 anos. Trabalhei na Secretaria de Planejamento do Governo do Estado e na EMPLASA, que é a empresa de planejamento metropolitano. Após esta passagem pela EMPLASA, eu vim para a STM em 2011. Na gestão passada (2011-2014), eu exerci o cargo de coordenador da CPG e, desde 2015, exerço a função de especialista.

Qual a diferença da Secretaria de Planejamento do Estado e a EMPLASA?

A Secretaria de Planejamento e Gestão é responsável pelo planejamento das atividades que são descritas no PPA no conjunto de todas as Secretarias e faz o controle e a gestão do orçamento do Estado. Lá eu era responsável por uma coordenadoria de planejamento e avaliação. O que a gente faz hoje especificamente para os projetos de transporte metropolitano, a gente fazia para todo o conjunto de projetos do Estado (agricultura, habitação, transportes…). Já a EMPLASA é a empresa de planejamento metropolitano da RMSP. É, basicamente, uma empresa provedora de insumos de dados socioeconômicos, georreferenciados e estatísticos da RMSP para os demais órgãos do Estado.

Qual a sua formação acadêmica?

Sou engenheiro metalúrgico de formação, formado na Universidade Federal de Ouro Preto. Me formei em 1984 e em 1985 eu já iniciei os trabalhos na área de transportes. Então minha experiência profissional praticamente toda foi com transporte urbano.

Como você foi parar nessa área, que é diferente da de sua formação?

Quando me formei, trabalhei numa fundição no interior da Bahia. Porém, por querer estar próximo ao grande centro, que era minha origem, eu vim trabalhar numa empresa de manutenção de ônibus em Taubaté, no interior de São Paulo. Este foi meu primeiro passo para me aproximar da área de transportes. Eu fiquei uns 6 meses nesta empresa, que fazia serviços de ônibus fretado e municipal. Então, fui convidado para ingressar no METRÔ, que estava iniciando uma gerência de implantação do sistema de trólebus no ABC, que posteriormente veio a se transformar na EMTU. A EMTU nasceu, então, de uma gerência que era dentro do METRÔ, responsável pela implantação do corredor de trólebus. Estive nessa gerência e, depois, quando houve a criação da EMTU, nos foi dada a opção de continuar no METRÔ ou ir para a EMTU. Escolhi ficar no METRÔ.

Qual é o assunto principal ou o maior desafio que você tem que lidar atualmente?

A questão da mobilidade urbana é bastante complexa, ainda mais tratando-se de uma região metropolitana como São Paulo, onde existem regiões com características de Bélgica e Índia a menos de 20km de distância. Cobrir e atender mobilidade num cenário tão heterogêneo como esse é bastante complexo.

De qualquer forma, acho que este trabalho está relativamente bem estruturado na STM, por meio de um planejamento bem feito em cima de dados da Pesquisa Origem-Destino, que São Paulo realiza desde 1967 a cada 10 anos. Este é o principal instrumento para se planejar transporte e pensar mobilidade.

Hoje, entendo que o principal desafio é a questão de recursos para a implementação de projetos, assim como da manutenção do equilíbrio de receitas e custos operacionais em função da política tarifária em São Paulo, que é de um valor único para todos deslocamentos, e do crescimento da malha. Então, temos custos crescentes na produção da viagem, porque estamos ampliando frota, quilômetros de rede, número de estações, porém a receita não necessariamente acompanha esta evolução. Isto tende a criar um desequilíbrio na sustentação da nossa estrutura de empresas.

Este desequilíbrio se acentua porque temos uma política de remuneração do parceiro privado muito baseada nos custos da produção e ele é remunerado independentemente da forma como o passageiro é transportado (passageiro exclusivo, de integração, meia-tarifa, gratuidades). Para esclarecer, o Estado faz a cobertura e ressarcimento das gratuidades e de todos os subsídios ao privado. As empresas (METRÔ, CPTM), que continuam operando os seus sistemas, ficam, efetivamente, com a “sobra” da receita que é retirada prioritariamente para remunerar o privado.

Então, para resumir os dois grandes desafios:

  • Assegurar um ritmo intenso de implantação dos nossos projetos e do parceiro privado, tanto em termos orçamentários, quanto de recursos humanos;
  • Desequilíbrio de receitas/custos e passageiros pagantes no sistema.

Para finalizar, como você se vê nos próximos anos?

Tenho 58 anos e tenho como projeto pessoal continuar minha carreira profissional pelos próximos 10 anos pelo menos. Meu objetivo de vida é, sim, continuar nessa mesma área e estrutura onde estou. Evidentemente, se houver desafios em alguma empresa, não necessariamente na STM, minha intenção é tentar cumprir estes desafios.

Entrevista realizada dia 24/01/2018